Endometriose


Avanços da medicina tentam reduzir problemas femininos, como a endometriose e os efeitos negativos da menstruação

Para uma parcela considerável das mulheres, menstruar todo mês pode ser o principal indício do bom funcionamento do aparelho reprodutor e um sinal importante de que o óvulo não foi fecundado. Para quem costuma sofrer com fortes cólicas, tensão pré-menstrual e fluxo intenso, entretanto, menstruação é sinônimo de transtorno - ou um mal desnecessário, como endossam alguns médicos, entre eles o professor Elsimar Coutinho.

O médico baiano, de 70 anos, que esteve em Belo Horizonte para participar de um simpósio sobre doenças femininas modernas, passou grande parte da vida difundindo a tese de que menstruar, além de incômodo, pode trazer prejuízos para a saúde feminina. E cada vez mais se convence de que o alto número de ciclos da mulher moderna acarreta o aparecimento de doenças como ovários policísticos, endometriose e miomatose, entre outros problemas no útero.

Para ele, a incidência de todos esses distúrbios está aumentado e cresce à medida que a mulher adia a maternidade. Antigamente, elas se casavam cedo, emendavam uma gravidez na outra e, quando não estavam grávidas, estavam amamentando. “A falta de menstruação nunca fez mal a ninguém. Ao contrário, protege a mulher contra uma série de doenças, preservando sua fertilidade", defende Elsimar.

O interesse do professor pelo assunto e os anos que dedicou à pesquisa resultaram na criação de um verdadeiro arsenal para quem deseja suspender as menstruações. Suas descobertas foram reconhecidas nacional e internacionalmente por médicos e por adeptas do sexo feminino que, por opção ou por necessidade, deixaram de menstruar. São mulheres como a jornalista Marília Gabriela, a atriz Ana Paula Arósio e a dona de casa Adnamara Souza Venturelli, de 36 anos. Ela parou de menstruar e, graças ao tratamento hormonal, livrou-se da endometriose. “As dores desapareceram, eu evitei uma cirurgia de risco e, o melhor, meu útero foi totalmente preservado”, comemora.

Tratamentos menos agressivos

Pacientes com problemas como endometriose buscam métodos com menos efeito colateral

Problema cada vez mais comum entre as mulheres, a endometriose incomoda pacientes e médicos. O diagnóstico, às vezes complicado, costuma ser feito somente depois que a mulher amarga sintomas por anos a fio. O pior deles, a infertilidade, pode ocorrer em até 40% dos casos.

O ginecologista Walter Pace, presidente da Federação de Cirurgia e Endoscopia Ginecológica e Obstétrica Brasileira (Fegob), explica que a doença ocorre quando pedaços do endométrio (camada que reveste o útero) escapam do seu ponto de origem e se alojam em outros espaços da cavidade abdominal, ocasionando inflamações, cistos, tumores e aderências. São essas aderências que provocam a sensação de dor e, em muitos casos, alterações anatômicas importantes associadas à infertilidade, como a obstrução de uma trompa, por exemplo.

Ao contrário do que se pensa, os pedaços de endométrio podem atingir regiões bem distantes do útero, como os pulmões, por exemplo. O grau da doença pode variar conforme o tamanho do implante e local onde ele se aloja na cavidade abdominal.

Os tratamentos vão variar de acordo com o objetivo da paciente e gravidade dos sintomas. Alívio da dor, diminuição do tamanho dos implantes e até a remoção de cistos e tumores são alguns dos resultados esperados. Se a mulher deseja engravidar, o médico direciona todo o tratamento para a preservação ou restauração da fertilidade.

Devido ao grau de complexidade, a autônoma Adnamara Souza Venturelli, de 36 anos, quase se submeteu a um procedimento cirúrgico. A presença de tecidos do endométrio no intestino estava provocando fortes dores, principalmente ao evacuar.

A cirurgia estava marcada, mas Adnamara iniciou um tratamento que consistia na interrupção da menstruação, graças à aplicação de um hormônio subcutâneo . “Consegui me curar da doença e ainda evitei um procedimento de risco. Não seria nada fácil fazer uma cirurgia no intestino”, comenta, aliviada.

Outros tratamentos clínicos de formas brandas em mulheres que não pretendem engravidar pode ser feito apenas com anticoncepcionais orais ou injetáveis. Em mulheres que pretendem engravidar, pode ser feito com cirurgia e tratamento hormonal ou tratamento hormonal seguido de cirurgia. “Tudo vai depender da história de cada paciente, seus desejos e condições de saúde”, esclarece Pace.

No entanto, trabalhos atuais mostram que a melhor alternativa para mulheres com endometriose e que não conseguem engravidar é a reprodução assistida, pois a endometriose não afeta as taxas de gravidez quando esse método é escolhido.

No caso de tratamentos cirúrgicos, existe a opção da laparotomia ou laparoscopia. Os implantes de endometriose são destruídos à laser, vaporização de alta freqüência ou com bisturi elétrico. A decisão cirúrgica é importante, já que sempre existe o risco do surgimento de aderências peritoniais, tão prejudiciais quanto a própria endometriose. Nas cirurgias repetidas, as chances aumentam e, por isso, o procedimento é desaconselhado.

MIOMAS Outro problema comum à mulher moderna é a presença de miomas no útero. Na maioria dos casos, eles são assintomáticos. Em outros, entretanto, provocam sangramento excessivo, cólicas menstruais intensas, aumento do volume abdominal e desconforto durante o ato sexual. Cerca de 40% das mulheres podem ser vítimas da miomatose uterina.

Sem causa definida, a presença desses tumores benignos já levou muitas mulheres a se tornarem inférteis. Nos Estados Unidos, por exemplo, são realizadas, anualmente, 600 mil histerectomias (cirurgia de retirada do útero). “Falta de informação e de acompanhamento ginecológico adequado costumam ser os principais motivos que ocasionam perda do útero”, ressalta Walter Pace.

TÉCNICAS Para preservar a fertilidade da mulher e a integridade do aparelho reprodutor, foram desenvolvidas, nos últimos 20 anos, várias técnicas de retirada de mioma. A histerectomia só deve ser realizada em último caso, normalmente para salvar a vida da paciente. Outros procedimentos menos invasivos e menos traumáticos podem ser conduzidos de forma bastante eficaz .

Apesar de não produzirem sintomas, na maioria dos casos, os miomas devem ser acompanhados por ultra-sonografia, para que seja monitorado o seu crescimento. Em situações em que os miomas geram sintomas, a paciente deve conversar com um médico de confiança no intuito de obter informações sobre riscos e efeitos colaterais de cada procedimento. Um dos aspectos que mais deve ser considerado na hora da escolha do tratamento é o fato de a mulher estar ou não com a prole definida.

Esse, aliás, é um dos principais motivos pelos quais a histerectomia deve ser evitada. Ela encerra completamente a possibilidade de uma mulher ter filhos. Outras complicações decorrentes do procedimento podem incluir lesões no intestino, bexiga, ureteres (fino tubo que liga o rim à bexiga, levando a urina), sangramento vaginal, infecção, dor pélvica crônica e diminuição da resposta sexual.

Como qualquer outro tipo de cirurgia, a histerectomia também pode levar à morte. Também nos Estados Unidos, 500 mulheres morrem a cada ano, em conseqüência do procedimento. No Brasil, não existem estatísticas, mas acredita-se que o número seja igualmente alto. “Assim como nos casos de endometriose, quando se tratam de miomas, o assunto deve ser conduzido com critério. O tratamento que é bom para uma pessoa, pode não ser adequado para outra ”, pondera.

Hormônios sob controle

Avanços em pesquisas e descoberta de medicamentos preservam fertilidade da mulher

As mulheres querem mais dos anticoncepcionais do que apenas a garantia de não engravidar. A velha pílula, que promoveu uma verdadeira revolução feminina, tem se modernizado para garantir menos efeitos colaterais e até auxiliar em tratamentos de problemas ginecológicos. Na forma de injeção e implantes, entre outros, as grandes vedetes são as que prometem acabar com sintomas da tensão pré-menstrual (TPM), regular dosagens hormonais no organismo e, em muitos casos, interromper a menstruação.

Foram métodos como esses que resolveram o problema da pedagoga Eliane Corrêa, de 34 anos que, todos os meses, amargava dores abdominais, sangramento excessivo e mudanças bruscas de humor. “Cheguei a ter problemas no trabalho. A forte TPM influenciava meu convívio social e com a família. Eu ficava realmente alterada”, admite.

A solução veio com a interrupção dos ciclos. Além de evitar a gravidez, Eliane deixou de viver as oscilações hormonais, que acabavam comprometendo sua qualidade de vida. Com o tratamento, os miomas regrediram de tamanho, diminuindo, inclusive, o risco de perda do útero.

“A miomatose uterina pode ser uma doença altamente infertilizante, justamente pelo risco de dano ou perda do órgão reprodutor”, explica o médico baiano Elsimar Coutinho, que esteve em Belo Horizonte na semana passada para participar do 2º Simpósio de Atualização em Endometriose e Mioma, promovido pela Federação de Cirurgia e Endoscopia Ginecológica e Obstétrica Brasileira (Fegob).

Segundo ele, para preservar a fertilidade, a mulher moderna deveria se alimentar melhor, se exercitar mais e não menstruar. O ginecologista Walter Pace, presidente da Fegob, também compartilha dessa visão. Para ele, a ausência de menstruação protege o organismo das alterações hormonais que estão associadas principalmente ao aparecimento de doenças como endometriose e miomatose. “O excesso de estrógeno é o principal fator de risco. Mulheres muito expostas à ação desse hormônio estão mais sujeitas a ter problemas”, afirma.

Não é por acaso que as pesquisas relativas à reposição hormonal têm merecido tanto interesse dos especialistas. Elsimar Coutinho, por exemplo, desenvolveu o primeiro anticoncepcional injetável de efeito prolongado e a primeira pílula anticoncepcional contendo norgestrel, que é hoje o progestínico mais usado do mundo, seguida da primeira pílula de dosagem reduzida.

Outros métodos anticoncepcionais, desenvolvidos ao longo de mais de 30 anos de pesquisa na Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia (UFBA), também incluem implantes subcutâneos com efeito prolongado (seis meses, um ano, dois anos, três anos e seis anos), dispositivos intra-uterinos (Cruz de Lorena e Cruz de Caravaca), e a pílula vaginal.

Tratamentos para infertilidade provocada pela endometriose ou pela miomatose foram outros temas de estudo do professor Elsimar. Nessa área, ele desenvolveu tratamentos com a aplicação de implantes hormonais subcutâneos. A principal vantagem dos implantes modernos, chamados de implantes de padrão ouro, é a possibilidade de individualizar dosagens hormonais e tipos de hormônio.

Walter Pace explica que eles são manipulados de acordo com as necessidades da paciente e, além disso, como não são absorvidos diretamente pelo fígado, provocam menos efeitos colaterais com muito mais resultados para o tratamento.

CIRURGIAS A histeroscopia, a laparoscopia e as cirurgias com pequenos cortes também figuram como avanços no tratamento das doenças ginecológicas da mulher moderna. Segundo os especialistas, os procedimentos têm se tornado cada vez menos invasivos, promovendo fácil recuperação e, principalmente, preservando a integridade do aparelho reprodutivo.

Exatamente como aconteceu com a consultora de telemarketing Vera Lúcia Alves, de 37 anos, que fez a retirada de miomas uterinos. Há 10 anos, ela se submeteu a uma cirurgia na qual foram removidos três nódulos. Cinco anos depois, foram detectados novos nódulos que se multiplicavam e cresciam com rapidez. Em setembro desse ano, eles já eram 16. Quinze foram retirados no processo cirúrgico e o último foi removido na semana passada, por via laparoscópica.

“Minha barriga cresceu muito e eu tinha muito sangramento. Corria o risco de perder o útero, mas fiquei com medo de me submeter à cirurgia. Felizmente, meu útero foi preservado e eu ainda posso engravidar”, comemora.

Saiba mais

• Embora não seja sinônimo de infertilidade, cerca de 30% a 40% das mulheres que sofrem com o endometriose têm dificuldade para engravidar

• Endometriose é o crescimento da camada que reveste o útero - o endométrio - fora dele. Para se

• Miomas são os tumores benignos, também conhecidos como fibromas, fibromiomas ou leiomiomas. Se desenvolvem na parede muscular do útero.

• Os miomas podem se localizar em diversas partes do útero. Existem, basicamente, quatro tipos que são os subserosos (aparecem e se desenvolvem abaixo da camada externa do útero), os intramurais (se desenvolvem na parede do útero e se expandem para dentro, aumentando o seu tamanho. É o tipo mais comum de mioma, os submucosos (estão abaixo do revestimento interno do útero. É o tipo menos comum de mioma, mas o que pode causar mais problemas) e os pendiculados (são os miomas que inicialmente crescem como subserosos e se destacam parcialmente do útero). Podem ser confundidos na ultra-sonografia com tumores ovarianos.

• O número de mulheres que têm mioma aumenta com a idade até a menopausa, quando então eles regridem pela falta de estímulo hormonal. Aproximadamente 20% das mulheres entre a segunda e terceira décadas de vida apresentam miomas, 30% entre a terceira e quarta décadas, e 40% entre a quarta e quinta décadas. De 20% a 40% das mulheres com 35 anos ou mais têm miomas de tamanho significativo.

• Embora os miomas possam aparecer na mulher aos 20 anos, a maioria das mulheres não apresenta sintomas até os 30 ou 40 anos. Os médicos não são capazes de prever se um mioma vai crescer ou causar sintomas.

Blogger template 'FlowerFlush' by Ourblogtemplates.com 2008