Revolução Feminina


O sexo frágil não tem medo de nada. Dá setenças com a toga do juiz, comanda empresas gigantes, maneja bisturis. A cada dia avança sobre feudos masculinos tradicionais. Já aparece em tropas de choque da Polícia Militar, comanda Boeing, constrói prédios. A mulher encontra-se na ponta de um processo que está transformando a sociedade brasileira. A mudança só agora vem sendo mensurada e estudada adequadamente pelos sociólogos. Em São Paulo, maior centro empregador do país, metade do contingente de trabalhadores é formado por mulheres. Elas competem ombro a ombro com os homens na captura de novas vagas. Um estudo do Ministério do Trabalho mostra que as mulheres derrotaram os homens nas vagas para dentista, veterinário e médico. Dos contratados, 83% são mulheres. Gradativamente, elas se instalam no rentabilíssimo meio dos que administram fortunas. Há mais de 250 mulheres dirigindo operações de renda fixa e renda variável nos grandes bancos de investimento. De cada grupo de dez médicos, três são mulheres. Metade do corpo de advogados do país é formada por doutoras. Elas abraçaram com força a profissão de juiz. Já são 35% dos quadros. Para onde quer que se olhe, as mulheres ganham terreno. Não ocorre uma guerra entre homens e mulheres. O que há é apenas um movimento de modernização social. Mas, se fosse uma guerra, as mulheres estariam no ataque. A discriminação cedeu mais fácil em empresas grandes e modernas, uma vez que elas estão em contato próximo com economias – e sociedades – que se modernizaram há mais tempo. Em outros campos, a pedra do preconceito continua no caminho.Existe, portanto, uma transformação indiscutível em andamento. Ela não foi provocada por lutas políticas, ou por concessão dos patrões, ou porque a sociedade tenha tomado a defesa das oprimidas. As razões são mais amplas. Houve uma intensa urbanização do país nos últimos 30 anos, o que mudou comportamentos, gerou necessidades e também oportunidades. A cidade requer mais dinheiro para a sobrevivência, fator que tirou a mulher de suas atividades da casa e a levou para a fábrica ou ao escritório. A classe média ficou com o orçamento mais curto. As moças tiveram de aproveitar o que aprenderam na escola para reforçar as contas de casa. Num país que amadureceu, as mulheres aboliram os freios que as mantinham para dentro da cerca do jardim. Além disso, a economia se tornou mais exigente e o fator sexo passou a perder o seu peso relativo.A questão da mulher na sociedade brasileira e sua função como trabalhadora tem sido tratada de maneira ainda incompleta. Não é novidade: outras questões também são manejadas sem base em estudos mais apurados. Entre esses temas clássicos encontram-se os sem-terra; os negros; o trabalho do menor e a economia informal. As mulheres, assim, enfrentam dois tipos de preconceito. Por um deles, ainda são vistas como figura secundária, um fator de auxílio do homem. Pelo outro, são consideradas como o centro de toda a opressão, um ser frágil que precisa ser protegido pela lei, caso contrário não consegue emprego nem importância social.Quando se olha para alguns números, ainda que não componham um quadro estatístico amplo, nota-se que a mulher ganhou importância maior do que lhe normalmente é atribuída. Enquanto a discussão continua em ambientes acadêmicos ou reuniões feministas, a mulher está destruindo silenciosamente o mito de desigualdade, sem que ninguém precise puxá-la pelo braço. Ela já sabe andar sozinha. Sandra Medeiros Assessora de Imprensa da Comunidade Sara Nossa Terra – Brasília. Colaboradora do Portal Lagoinha.com

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