A Ajudadora e Seu Ministério Espiritual Dentro do Lar Por Wanda de AssumpçãoSelma e Maurício são um casal presbiteriano típico, de terceira geração. Ambos foram criados em lares crentes, onde desde a mais tenra infância aprenderam as sagradas letras. Conheceram-se num encontro de jovens das diversas igrejas evangélicas da cidade, namoraram e se casaram depois que Maurício terminou os estudos e começou a trabalhar. Como dois filhos chegassem logo em seguida, Selma dedicou-se à família por alguns anos antes de concluir seus próprios estudos e pensar em exercer outra atividade. Agora que os filhos já não dependem tanto dela, abriu um pequeno negócio e está amando a oportunidade de fazer o que tanto gosta e ainda ajudar nas finanças da família.Uma situação comum A vida corre mansa e tranquila, mas alguma coisa inquieta o coração de Selma. Embora a família toda participe dos trabalhos da igreja em várias posições de liderança, ela tem alguns questionamentos com relação à maneira como vivem o evangelho dentro de casa. Parece que sempre é ela que está procurando fazer acontecer as coisas que considera parte normal da vida religiosa no lar. Ela se lembra de como seu pai fazia o culto doméstico regularmente no lar em que crescera, antes de as crianças irem para a cama e acha que Maurício estava sendo um tanto relapso por não assumir a mesma responsabilidade. Além disso, nas vezes em que tentou ela mesma reunir a família para isso, não sentiu que tinha mais do que a aquiescência formal do marido e sentiu-se lutando contra a apatia de todos.Diante dessa situação, Selma se pergunta o que deve fazer. Não é papel do marido, o cabeça do lar, assumir a responsabilidade pela vida espiritual da esposa e dos filhos? Será que ela pode fazer alguma coisa sem usurpar o lugar e a responsabilidade dele? Deve ficar de lado, olhando enquanto os filhos crescem sem ouvir falar muito em Deus dentro de sua própria casa? O que ela pode fazer se o marido não mudar?A nossa responsabilidade individualO dilema de Selma é um dilema vivido por muitas mulheres dentro de seus lares. Talvez seja até mais difícil para ela do que para algumas esposas cujos maridos não são crentes. Essas já não esperam mesmo nada da parte deles no aspecto espiritual a não ser que tenham uma mudança de coração. Mas as esposas de maridos crentes que não correspondem ao que elas acham que deveria ser a liderança espiritual da parte deles vêem-se de mãos atadas por não quererem passar adiante deles e ao mesmo tempo desejarem ver neles um exemplo de espiritualidade pujante e ativa, especialmente e a começar dentro de casa. Acontece que as mulheres são pessoas com algumas características especiais que Deus usa muitas vezes para conduzir toda a família mais perto de Si. Isso não é passar adiante do marido, mas, sim, ajudá-lo, com os dons diferentes que Deus nos deu, até na área espiritual Quer ver um bom exemplo disso? É a história de Ana, mãe de Samuel. Ana sentia uma grande carência dentro de si. Aparentemente era por não poder ter filhos, pois, na sua época, a infertilidade era considerado uma maldição, mas essa era apenas a circunstância penosa de sua vida. Ela tinha o amor do marido, mas sofria as picuínhas de sua rival dentro do lar. Para nós, hoje, é quase impossível imaginar o que seria ser "uma das esposas", mas na época de Ana isso era comum e aceitável. Pelo visto, não era esse o seu grande dilema, mas, sim, o fato de que "o Senhor lhe havia cerrado a madre". Ela tinha uma reclamação a fazer com o Dono da vida. Mais do que de filhos, Ana precisava aprender a depender totalmente de Deus, mesmo que nada viesse a mudar. É interessante notar que Elcana, embora amasse extremadamente a esposa e fizesse tudo para demonstrar isso, causando os ciúmes de Penina, não entendia as necessidades de Ana, chegando mesmo a repreendê-la por continuar triste: "Ana, por que choras? e por que não comes? e por que estás de coração triste? Não te sou eu melhor do que dez filhos?" (1 Samuel 1:8). Mas Ana continuava sofrendo. Seu problema era com o Senhor e o que Ele desejava para sua vida; portanto, foi diante Dele que buscou a solução. Ela Lhe expôs toda a sua dor de maneira insistente e veemente e saiu do templo com o coração em paz, pois havia entregue seu problema Àquele que o podia solucionar. Mais do que de um filho, Ana precisava aprender a depender inteiramente de Deus. Depois que ela aprendeu isso, o Senhor lhe abriu a madre e ela teve um filho que iria ser o homem mais importante da nação por muito tempo. Mudar as circunstâncias, por mais complicadas que sejam, é fácil para Deus. Mas acima de tudo, Ele quer mudar o nosso coração, e para isso precisa muitas vezes nos levar a uma impotência total, ao fim de nós mesmas, de todos os recursos que temos e sabemos usar, para aprendermos que só Nele temos aquilo por que mais ansiamos.Levar a Deus algum problema nos aflige pessoalmente é algo que podemos e devemos fazer. A família toda será abençoada através da nossa maneira especial de enxergar a dificuldade e da nossa intercessão.Em Cristo, escreveu o apóstolo Paulo em Gálatas 3:28, "não pode haver nem judeu nem grego; nem escravo, nem liberto; nem homem, nem mulher". O senhorio de Cristo em nossas vidas nos responsabiliza individualmente, em qualquer situação em que nos encontremos. Em Cristo, não há limites para o nosso crescimento espiritual, mesmo dentro de um casamento que deixe a desejar. Somos responsáveis por nós mesmas diante de Deus (Romanos 14:12).Portanto, se sentimos falta de envolvimento espiritual de nossos maridos dentro de casa, precisamos buscar a Deus com mais intensidade para termos para nós e podermos repartir com os nossos queridos. Por mais que Deus honre e valorize os relacionamentos, e especialmente os laços conjugais, não vamos chegar ao céu de mãos dadas, aos pares ou em grupos. Vamos chegar lá um a um pois a salvação depende da decisão de cada pessoa em aceitar o perdão que Deus proveu através da cruz de Cristo. Sua graça é imensa e irrevogável, mas a salvação depende de um "se". "Eis que estou à porta, e bato. Se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e cearei com ele e ele comigo" (Apocalipse 3:20). Ele só entra em nossas vidas se abrirmos a porta. E a decisão é pessoal e intransferível.Qualquer que seja a situação que estejamos vivendo, continua sendo pessoal a responsabilidade de nos aprofundarmos no nosso relacionamento com Deus. Se a esposa está se sentindo tocada a buscar mais intimidade com Deus, não pode ficar esperando que o marido também sinta o mesmo para ambos o buscarem juntos. Ela pode mencionar seu desejo, favorecer as circunstâncias, e pode até ser que o marido a atenda, mas se não for o caso, a responsabilidade é dela.A verdadeira maturidade espiritualO papel da mulher como ajudadora do seu marido na vida espiritual é mostrado no ensino do apóstolo Pedro às esposas em sua primeira carta. Ele se dirige a todas as esposas, embora focalize primeiro a mulher casada com um homem não crente. A esposa vai ajudar seu marido sem falar nada! E sabe por quê? Porque nossas ações falam mais alto do que qualquer coisa que possamos dizer. Pedro está dizendo que não é para ficarmos cutucando nossos maridos com o que o pastor falou no sermão de domingo, com o que o professor da escola dominical ensinou, com o que lemos naquele livro maravilhoso sobre a vida cristã dentro do lar. Devemos, isto sim, viver uma vida de tanta intimidade com Deus que transpareça em nós algo que nossos maridos desejarão ter também: aquele espírito manso e tranquilo que têm as mulheres que esperam no Senhor, que dependem primeiro Dele! Quando levamos primeiro ao Senhor todas as nossas frustrações, as nossas decepções e amarguras de espírito — o marido que não nos ama como gostaríamos, que não assume suas responsabilidades como achamos que deveria fazer, a filha que está permitindo muita intimidade no seu namoro, o filho retraído que não quer mais saber da igreja nem de Deus, e tantas coisas que fazem parte da vida da maioria de nós — e as deixamos a Seus pés, nosso coração fica cheio da paz que só Ele pode dar. Mesmo no meio das circunstâncias mais tristes e assustadoras, refletimos essa paz nos nossos rostos, na nossa postura, no nosso comportamento.A mulher cujo espírito é manso e tranquilo não envelhece mesmo quando vierem as rugas e os cabelos brancos, pois sua beleza cresce com o avançar da idade, tornando-se cada vez mais irresistível. O marido dessa esposa se apaixonará cada vez mais por ela, e pode até ser que se apaixone por ela de verdade pela primeira vez. E, segundo o apóstolo Pedro, a beleza da esposa ajudará o marido a enxergar mais claramente o poder de Deus e a desejar buscá-lo para si também.O ministério pró-ativoQuando nos disse para não pregar para os nossos maridos, o apóstolo Pedro não estava dizendo que, nessa área, não há nada que possamos fazer em favor deles. O ministério da boca fechada diz respeito somente aos maridos. Entretanto, temos o melhor dos recursos para abençoar a vida deles — o ministério da intercessão. Como em tudo o mais, vamos buscar primeiro a Deus e levar a Ele as nossas inquietações e desejos. É muito especial para qualquer marido, crente ou não, saber que sua esposa ora por ele. Pergunte-lhe se há alguma coisa que ele deseja que você ore em favor dele. Nada demonstra para ele mais claramente que você é sua aliada, que está do lado dele para o que der e vier do que quando intercede em seu favor diante de Deus. Além disso, quando oramos por alguém, acolhemos essa pessoa no nosso coração e passamos a enxergar o que é realmente melhor para ele. Quando nossos maridos estiverem convencidos de que somos ativamente a seu favor, como suas aliadas, terão mais disposição para se abrir conosco e colheremos o benefício de uma maior intimidade e união entre nós.Ore por seu marido. Ore especificamente. Ore dentro do que a Bíblia ensina que Deus deseja ver na vida de seus filhos — crescimento, maturidade, amor, probidade, retidão. Fazendo isso, você estará se aliando a Deus a favor do seu marido. Quer uma aliança mais irresistível? *SAF em Revista é uma publicação da Sociedade Auxiliadora Feminina da Igreja Presbiteriana